Doenças

Doença de Pompe: entenda o que é e como os exames genéticos podem auxiliar

Dr. Gustavo G. da Fonseca

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A doença de Pompe, também conhecida como glicogenose tipo II ou deficiência de maltase ácida, é uma doença genética neuromuscular rara e degenerativa, progressiva e hereditária que afeta pacientes de todas as idades. Essa doença atinge em média um indivíduo a cada 40 mil nascidos.

A doença de Pompe é causada pela deficiência da enzima alfa-glicosidase ácida (GAA). Ela pertence a um grupo de doenças conhecidas como “distúrbios de armazenamento lisossômico” (LSDs – lysosomal storage disorders). Os lisossomos são pequenos compartimentos dentro das células onde moléculas são degradadas. Na doença de Pompe a função da enzima lisossomal alfa-glicosidase ácida (GAA) está diminuída ou não funciona por completo.

Os músculos do nosso corpo podem armazenar energia por meio de um açúcar chamado glicogênio e a enzima alfa-glicosidase ácida é responsável justamente pela degradação do glicogênio para produção de energia. A escassez ou disfunção da enzima GAA faz com que o glicogênio se acumule dentro dos lisossomos, o que subsequentemente leva ao dano celular, dano tecidual e, por fim, disfunção orgânica que se manifesta principalmente por fraqueza muscular e respiratória.

Portanto, a doença de Pompe não está apenas listada como uma LSD, mas também como parte dos “distúrbios de armazenamento de glicogênio” (GSDs – glycogen storage disorders) atualmente conhecidos, um grupo de distúrbios metabólicos caracterizados por anormalidades na síntese e degradação do glicogênio.

Causas da doença de Pompe

A doença de Pompe é herdada em um padrão autossômico recessivo. As doenças genéticas recessivas ocorrem quando um indivíduo herda um gene que não funciona de cada um dos pais. Se um indivíduo receber um gene funcional e um gene não funcional para a doença, a pessoa será portadora. Os portadores da doença de Pompe não apresentam sintomas. O risco de dois pais portadores transmitirem o gene não funcional e, portanto, terem um filho afetado é de 25% a cada gravidez. O risco de ter um filho portador, como os pais, é de 50% a cada gravidez. A chance de uma criança receber genes funcionais de ambos os pais é de 25%. O risco é o mesmo para homens e mulheres.

Esta doença manifesta-se por causa de variações patogênicas (mutações) na sequência do gene alfa-glicosidase ácida (GAA) que codifica a enzima alfa-glicosidase ácida (GAA), de mesmo nome. Perto de 600 variações diferentes do gene GAA foram identificadas em famílias com este distúrbio.

O grau de deficiência da enzima alfa-glicosidase ácida (GAA) é ditado pela natureza das variações em cada uma das 2 cópias do gene GAA (1 do pai com variação e 1 da mãe com variação) e seu efeito combinado. Geralmente: quanto mais deficiência de GAA essas variantes causam, mais precoce é o início dos sintomas, mais rápida é a progressão da doença e maior é a gravidade clínica.

Tipos e sintomas da doença de Pompe

A doença é heterogênea, com diferentes idades de início e taxas de progressão, atualmente, acredita-se que existam 2 tipos principais de doença de Pompe:

  1. Doença de Pompe de início precoce / infantil (infantile onset Pompe Disease – IOPD): ocorre antes de 12 meses de vida e é causada pela deficiência completa ou quase completa de a enzima GAA. Os sintomas começam nos primeiros meses de vida, com problemas de alimentação, pouco ganho de peso, dificuldade para respirar, fraqueza muscular, atraso no desenvolvimento motor, coração dilatado. Muitas crianças também apresentam línguas aumentadas. Sem terapia de reposição enzimática, a maioria dos bebês morre de complicações cardíacas ou respiratórias antes do primeiro aniversário.
  2. Doença de Pompe de início tardio (late onset Pompe Disease – LOPD): resulta da deficiência parcial da enzima GAA e pode começar já na primeira década da infância ou na idade adulta. A fraqueza muscular pode progredir para a morte por insuficiência respiratória após vários anos. A cardiomiopadia geralmente não está envolvida.

Tratamento da doença de Pompe

O tratamento da doença de Pompe é multidisciplinar e focado no controle dos sintomas. São usadas terapias de suporte como, por exemplo, a terapia respiratória e fisioterapia para fortalecer os músculos usados na respiração. A fisioterapia também é usada para melhorar a força geral e a capacidade física. A terapia ocupacional pode ajudar os pacientes a realizar tarefas diárias. Dispositivos ortopédicos, podem ser usados para fornecer suporte para alguns pacientes

A terapia de reposição enzimática (TRE) é o tipo de tratamento mais comum para a doença de Pompe. O paciente recebe regularmente uma infusão da enzima alfa-glicosidase ácida (GAA). Essa terapia tem se mostrado benéfica, com preservação da função muscular, impacto positivo nos testes motores de caminhada e atividades diárias, além da melhora na função respiratória e cardíaca. 

Diagnóstico da doença de Pompe

Esta doença pode ser difícil de diagnosticar por ser pouco conhecida e seus sinais e sintomas se confundirem com outras doenças, entretanto, o diagnóstico e tratamento precoce permitem um melhor desfecho clínico.

O diagnóstico pode ser feito por meio da dosagem enzimática, ou por exames genéticos que detectam alterações no gene GAA como o sequenciamento NGS do gene GAA, ou o sequenciamento de todo o exoma.

Referências bibliográficas

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