Doenças

Epidermólise Bolhosa: o que é, sintomas e diagnóstico

Equipe Dasa Genômica

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Autora: Carolina Martins do Prado, Farmacêutica, MsC., PhD

A Epidermólise Bolhosa (EB) é uma doença rara caracterizada pelo surgimento de bolhas na pele ou nas membranas mucosas devido a fragilidade deste tecido. As lesões podem trazer sérios impactos psicológicos, econômicos e sociais. Atualmente, não há uma cura para a doença o tratamento consiste no controle dos sintomas.  

O que é Epidermólise Bolhosa? 

A epidermólise bolhosa hereditária (EB) compreende um grupo de doenças genéticas associadas à fragilidade cutânea, que leva à formação de bolhas, erosões e cicatrizes na pele e em mucosas em resposta a mínimos traumas mecânicos. Tais lesões podem ocorrer em qualquer parte do corpo. Em alguns tipos de EB as lesões também podem ocorrer em órgãos internos, como esôfago, estômago e vias respiratórias. 

Existe uma heterogeneidade genética e clínica na EB, portanto, são identificados diferentes tipos da doença com diversos níveis de gravidade. Pelo menos 17 genes estão envolvidos, e alterações em qualquer um deles pode levar à EB. Consoante com essa heterogeneidade, EB é classificada em quatro tipos principais e em diversos subtipos clínicos.  

A maioria das pessoas desenvolve a EB em função de variantes genéticas herdadas de seus pais. Essas alterações genéticas mudam a forma como o corpo produz proteínas que ajudam a pele a se unir e a permanecer íntegra. Na epidermólise bolhosa, essas proteínas não se formam corretamente. As camadas da pele não se ligam normalmente, tornando mais fácil para a pele “rasgar” ou formar bolhas. 

A EB ocorre em todo o planeta e acomete ambos os sexos. Dados epidemiológicos sobre sua frequência no Brasil ainda não estão disponíveis. De acordo com a literatura, a prevalência internacional de EB fica em torno de 11 casos por um milhão de habitantes e a incidência é de aproximadamente 20 casos por um milhão de nascidos vivos. Nos Estados Unidos, estima-se a ocorrência de 50 casos de EB por 1 milhão de nascidos vivos, sendo 92% deles da forma simples, 5% da forma distrófica, 1% da forma juncional e 2% não classificados. A EB do tipo distrófica foi associada a padrões de herança autossômica dominante e autossômica recessiva. 

Epidermólise Bolhosa: quais são os tipos?

A pele tem uma camada superior ou externa, chamada epiderme, e uma camada de derme que fica abaixo da epiderme. A membrana basal é onde as camadas da pele se encontram (fig 1).  

http://www.oncoguia.org.br/pub/5_tipos_de_cancer/pele2.jpg

Figura 1: Camadas da pele e da epiderme.  

Existem quatro tipos principais de EB. Eles são determinados conforme a localização das alterações na pele e a alteração genética identificada: 

  1. Epidermólise bolhosa simples: as bolhas ocorrem na parte inferior da epiderme. 
  1. Epidermólise bolhosa juncional: As bolhas ocorrem na porção superior da membrana basal, devido a problemas de fixação entre a epiderme e a membrana basal. 
  1. Epidermólise bolhosa distrófica: as bolhas ocorrem na derme superior devido a problemas de fixação entre a membrana basal e a derme superior. 
  1. Síndrome de Kindler: as bolhas ocorrem em várias camadas da pele, incluindo a membrana basal. 

Um quinto tipo da doença, a epidermólise bolhosa adquirida, é um distúrbio autoimune raro que faz com que o sistema imunológico do corpo ataque um certo tipo de colágeno na pele da pessoa. Às vezes ocorre juntamente com outra doença, como doença inflamatória intestinal. Muito raramente, um medicamento pode desencadear a doença. Ao contrário dos outros tipos de EB, os sintomas podem começar em qualquer idade, mas muitas pessoas desenvolvem sintomas durante a meia-idade. 

Sintomas da Epidermólise Bolhosa

Todos os indivíduos com EB têm pele frágil, que rasga facilmente, além da formação de bolhas, especialmente nas palmas das mãos e nos pés. Entretanto, os sintomas podem variar dependendo do tipo de EB. 

  1. A epidermólise bolhosa simples é a forma mais comum da doença. As pessoas que têm um subtipo leve desenvolvem bolhas nas palmas das mãos e nas solas dos pés. Em outros subtipos mais graves, as bolhas ocorrem em todo o corpo. Dependendo do subtipo da doença, outros sintomas podem incluir: 
  • Pele espessa nas palmas das mãos e solas dos pés. 
  • Unhas das mãos ou dos pés ásperas, espessadas ou ausentes. 
  • Bolhas dentro da boca. 
  • Alterações na pigmentação (cor) da pele. 
  1. A epidermólise bolhosa juncional geralmente é grave. As pessoas que têm a forma mais grave podem apresentar bolhas abertas no rosto, tronco e pernas, que podem infeccionar ou causar desidratação grave devido à perda de líquidos. As bolhas também podem se desenvolver na boca, esôfago, vias aéreas superiores, estômago, intestinos, sistema urinário e órgãos genitais. Outros sintomas e problemas relacionados à doença podem incluir: 
  • Unhas das mãos e dos pés ásperas e espessas ou ausentes. 
  • Pele com aparência fina. 
  • Bolhas no couro cabeludo ou perda de cabelo com cicatrizes (alopecia cicatricial). 
  • Desnutrição resultante da ingestão insuficiente de calorias e vitaminas devido a formação de bolhas na boca e no trato gastrointestinal. 
  • Anemia. 
  • Crescimento geral lento. 
  • Esmalte dentário anormal. 
  1. A epidermólise bolhosa distrófica apresenta sintomas ligeiramente diferentes, dependendo se a doença é autossômica dominante ou autossômica recessiva (a maioria das pessoas afetadas tem o subtipo recessivo).  
  • Subtipo recessivo: os sintomas variam de leves a graves e podem incluir: 
  • As bolhas geralmente aparecem em grandes áreas do corpo; em alguns casos mais leves da doença, as bolhas podem aparecer apenas nos pés, cotovelos e joelhos. 
  • Perda de unhas ou unhas ásperas ou grossas. 
  • Cicatrização da pele, que pode fazer com que a pele fique espessa ou fina. 
  • Milia, que são pequenas protuberâncias brancas na pele. 
  • Coceira. 
  • Anemia. 
  • Crescimento geral lento. 

Formas graves do subtipo recessivo podem levar a lesões oculares, perda de dentes, formação de bolhas na boca e no trato gastrointestinal e fusão dos dedos das mãos ou dos pés. Há também um alto risco de desenvolver câncer de pele. Esse câncer tende a crescer e se espalhar mais rapidamente em pessoas com epidermólise bolhosa do que naquelas sem a doença. 

  • Subtipo dominante: os sintomas podem incluir: 
  • Bolhas apenas nas mãos, pés, cotovelos e joelhos. 
  • Mudança na forma das unhas ou perda das unhas. 
  • Milia. 
  • Bolhas dentro da boca.
  1. A síndrome de Kindler não possui subtipos e as bolhas podem se formar em todas as camadas da pele. As bolhas geralmente aparecem nas mãos e nos pés e, em casos graves, se espalham para outras áreas do corpo, incluindo o esôfago e a bexiga. Outros sintomas incluem pele fina e enrugada; cicatriz; milia; e sensibilidade da pele aos danos causados pelo sol. 

Diagnóstico 

A suspeita da EB é pelo quadro clínico. O histórico familiar pode indicar o modo de herança genética (autossômica dominante ou autossômica recessiva).  

O diagnóstico da EB pode ser feito por meio de biópsia e imunofluorescência ou microscopia eletrônica da pele, histórico clínico do paciente e exames genéticos. O teste genético geralmente é feito para confirmar o tipo específico de doença e orientar o aconselhamento genético.  

Como é o tratamento para Epidermólise Bolhosa?

Ainda não há cura para a epidermólise bolhosa, mas várias estratégias inovadoras vêm sendo testadas, incluindo imunoterapia, terapia celular e terapia gênica. Recentemente, um produto de terapia gênica recebeu aprovação condicional nos Estados Unidos para o tratamento tópico da forma distrófica da EB.  

O tratamento de suporte visa a controlar os sintomas e prevenir manifestações mais graves. No manejo do paciente inclui as seguintes medidas são consideradas: 

Gerenciamento da dor e da coceira: 

Pode ser recomendado o uso de analgésicos para ajudar a controlar a dor causada por bolhas e feridas abertas na pele ou em outras áreas do corpo. Alguns tipos de epidermólise bolhosa causam coceira. Para ajudar a evitar arranhões, que podem fazer com que a pele frágil rasgue, o médico pode prescrever medicamentos para ajudar a controlar a coceira. 

Proteção da pele e cuidado de bolhas e feridas: 

O cuidado da pele é uma parte importante do tratamento da EB. Como as bolhas podem ser grandes, é importante cuidar das bolhas e feridas para ajudar a prevenir a perda de fluido corporal da bolha e prevenir a infecção das feridas. O médico também pode recomendar curativos específicos para esse cuidado.  

Tratamento e prevenção de infecções: 

Algumas feridas e bolhas podem infeccionar. Para tratar a infecção, seu médico pode prescrever antibióticos orais ou tópicos. As feridas que não cicatrizam podem exigir coberturas ou bandagens medicamentosas. 

Manter ou restaurar a mobilidade: 

Para algumas pessoas, a cicatrização pode criar contraturas (aperto e encurtamento anormal dos músculos, tendões ou ligamentos). Isso pode acontecer nas mãos e nos pés e limitar a capacidade de mover ou usar esses músculos. Um fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional pode ajudar a melhorar, restaurar ou manter sua capacidade de se mover. Manter uma boa alimentação: 

Algumas pessoas com EB podem apresentar bolhas na boca, esôfago e intestinos, dificultando a mastigação, deglutição e digestão de alimentos e bebidas. Um nutricionista pode para ajudar a identificar receitas e alimentos nutritivos e fáceis de consumir.  

Considerações finais: 

A identificação correta da EB é importante para que um plano de manejo adequado seja estabelecido. Por outro lado, o estabelecimento da etiologia da EB é importante para a identificar o tipo específico e para que o médico geneticista possa orientar o aconselhamento genético. Para isso, a Dasa Genômica oferece o painel NGS para epidermólise bolhosa. Esse painel avalia 17 genes relacionados a doença com apenas uma amostra de sangue.  

Referências bibliográficas: 

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